PAINÉIS
PUBLICITÁRIOS DENUNCIAM O RACISMO NO BRASIL
Em julho de 2015, uma maneira diferente
e inovadora de denunciar o racismo surgiu nas ruas de algumas cidades
brasileiras. Após a indignação provocada pelo teor racista encontrado no
conteúdo de comentários publicados na internet, a ONG brasileira Criola, uma
organização carioca fundada por mulheres negras que tem como objetivo promover
os seus direitos, decidiu criar a campanha intitulada: “Racismo virtual. As
consequências são reais.”. A campanha consistia em divulgar esses
comentários em outdoors perto da casa dos autores dos comentários com o
intuito de provocar um debate sobre os limites da liberdade de expressão na
Internet.
A campanha começou no dia 3 de
julho, dia nacional contra a discriminação racial, data que celebra a aprovação
da Lei Afonso Arinos que constitui como infração penal o preconceito por raça
ou cor. Nesse dia, Maria Julia Coutinho,
apresentadora da seção metereológica do jornal televisivo “Jornal Nacional” da
emissora Globo, uma das mais populares no país, foi alvo de comentarios
racistas no site do jornal. Indignados pela impunidade dos autores desses atos,
milhares de leitores e militantes descobriram a localização dos mesmos e
expuseram suas palavras perto de suas vizinhanças, mas sem divulgar nomes e
fotos.
Figura 1 : Outdoor exibe o comentário
racista de um internauta el Vila Velha – ES.
No Brasil, o histórico de crimes e expressões
racistas nao é recente. Esse problema encontra raízes no período colonial, no
qual negros africanos eram vendidos como escravos e trazidos ao país em sua
maioria para trabalhar nos setores agrícolas e mineradores durante os séculos
XVII, XVIII e XIX. Sua liberdade constitucional foi obtida somente no 13 de maio
de 1888, a abolição mais tardia da América. Desde então, os descendentes dos
negros africanos representam a maioria da população em geral, cerca de 51%
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entretanto,
em consequência do histórico da escravidão, a população negra está mais
presente nas classes baixas e desfavorecidas. "O racismo está escondido, é
sutil, jamais confessado e sistematicamente subestimado pela mídia. No entanto,
continua extremamente violento.", disse Joaquim Barbosa, o primeiro juiz negro a pleitear
uma vaga na Suprema Corte, em Brasília. Diversas pesquisas exemplificam esse
cenário de discriminação racial: estima-se que dos 30 mil jovens assassinados
por ano no Brasil, 76,5 % são negros, por outro lado a participação dessa
camada da população no ensino superior não chega a nem 10% dos alunos.
Tendo em vista esse contexto discriminatório, a
ONG busca justamente questionar o silêncio e a impunidade face ao racismo e
defender os diretos dos negros no país. “Essas pessoas [que postam
expressões de ódio na internet] pensam que podem se sentar no
conforto de suas casas e fazer o que quiserem na internet. ... Eles não podem
se esconder de nós, vamos encontrá-las.”, disse Jurema Werneck, fundadora
da associação em entrevista à BBC, após o ocorrido.
A ação causou repercução na imprensa
internacional e influenciou outros movimentos similares no mundo. Por exemplo,
na França no começo de dezembro, o jornal cotidiano Nord Littoral, presente na
região de Calais, publicou mensagens com conotações xenofóbicas que seus
leitores escreveram em sua página no Facebook como uma maneira de denunciar a
discriminação. Face à dificuldade de condenar os crimes raciais por vias
legais, uma resposta e militância social se faz necessária para combater a
opressão e preconceito que as minorias vivem no cotidiano. Ações como essa, levantam o debate racial e a
visibilidade da luta pela igualdade racial no país. Segundo Jurema Werneck, “o
pior inimigo do racismo é o silêncio”.
VAZQUEZ MARTINEZ César Eduardo FIGUEIREDO DE ALMEIDA ALVES Helena
http://www.lemonde.fr/culture/article/2012/09/13/au-bresil-un-racisme-cordial_1759964_3246.html
http://www.jeuneafrique.com/32807/politique/br-sil-bienvenue-au-pays-du-racisme-cordial/
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