jeudi 21 janvier 2016

PAINÉIS PUBLICITÁRIOS DENUNCIAM O RACISMO NO BRASIL

Em julho de 2015, uma maneira diferente e inovadora de denunciar o racismo surgiu nas ruas de algumas cidades brasileiras. Após a indignação provocada pelo teor racista encontrado no conteúdo de comentários publicados na internet, a ONG brasileira Criola, uma organização carioca fundada por mulheres negras que tem como objetivo promover os seus direitos, decidiu criar a campanha intitulada: “Racismo virtual. As consequências são reais.”.  A campanha consistia em divulgar esses comentários em outdoors perto da casa dos autores dos comentários com o intuito de provocar um debate sobre os limites da liberdade de expressão na Internet.
 A campanha começou no dia 3 de julho, dia nacional contra a discriminação racial, data que celebra a aprovação da Lei Afonso Arinos que constitui como infração penal o preconceito por raça ou cor. Nesse dia, Maria Julia Coutinho, apresentadora da seção metereológica do jornal televisivo “Jornal Nacional” da emissora Globo, uma das mais populares no país, foi alvo de comentarios racistas no site do jornal. Indignados pela impunidade dos autores desses atos, milhares de leitores e militantes descobriram a localização dos mesmos e expuseram suas palavras perto de suas vizinhanças, mas sem divulgar nomes e fotos.

Figura 1 : Outdoor exibe o comentário racista de um internauta el Vila Velha – ES.
    No Brasil, o histórico de crimes e expressões racistas nao é recente. Esse problema encontra raízes no período colonial, no qual negros africanos eram vendidos como escravos e trazidos ao país em sua maioria para trabalhar nos setores agrícolas e mineradores durante os séculos XVII, XVIII e XIX. Sua liberdade constitucional foi obtida somente no 13 de maio de 1888, a abolição mais tardia da América. Desde então, os descendentes dos negros africanos representam a maioria da população em geral, cerca de 51% segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entretanto, em consequência do histórico da escravidão, a população negra está mais presente nas classes baixas e desfavorecidas. "O racismo está escondido, é sutil, jamais confessado e sistematicamente subestimado pela mídia. No entanto, continua extremamente violento.", disse Joaquim Barbosa, o primeiro juiz negro a pleitear uma vaga na Suprema Corte, em Brasília. Diversas pesquisas exemplificam esse cenário de discriminação racial: estima-se que dos 30 mil jovens assassinados por ano no Brasil, 76,5 % são negros, por outro lado a participação dessa camada da população no ensino superior não chega a nem 10% dos alunos.
    Tendo em vista esse contexto discriminatório, a ONG busca justamente questionar o silêncio e a impunidade face ao racismo e defender os diretos dos negros no país. “Essas pessoas [que postam expressões de ódio na internet] pensam que podem se sentar no conforto de suas casas e fazer o que quiserem na internet. ... Eles não podem se esconder de nós, vamos encontrá-las.”, disse Jurema Werneck, fundadora da associação em entrevista à BBC, após o ocorrido.
    A ação causou repercução na imprensa internacional e influenciou outros movimentos similares no mundo. Por exemplo, na França no começo de dezembro, o jornal cotidiano Nord Littoral, presente na região de Calais, publicou mensagens com conotações xenofóbicas que seus leitores escreveram em sua página no Facebook como uma maneira de denunciar a discriminação. Face à dificuldade de condenar os crimes raciais por vias legais, uma resposta e militância social se faz necessária para combater a opressão e preconceito que as minorias vivem no cotidiano. Ações como essa, levantam  o debate racial e a visibilidade da luta pela igualdade racial no país. Segundo Jurema Werneck, “o pior inimigo do racismo é o silêncio”.


VAZQUEZ MARTINEZ César Eduardo                                                                                                                                                                               FIGUEIREDO DE ALMEIDA ALVES Helena

http://www.lemonde.fr/culture/article/2012/09/13/au-bresil-un-racisme-cordial_1759964_3246.html
http://www.jeuneafrique.com/32807/politique/br-sil-bienvenue-au-pays-du-racisme-cordial/


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